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foto: Derek Morley. |
Estou a ponto de parir um poema
Sem paradoxos
Sem parassínteses
Sem poesia
Sem pareceres
Sem piadas
Sem poema
Hei de amamentá-lo
Com todo zelo e cuidado
O canto das cigarras me acordou
É primavera e tudo quer reproduzir
Os besouros voam procurando seus amores
A Grande Valse Brillante de Chopin
É linda e alegre
Como você
"Hoje a gente nem se fala
Mas a festa continua
Suas noites são de gala
Nosso samba ainda é na rua"
No Café da Rua 8
É noite
Numa sexta-feira
Todos dançam
Tudo parece tão absurdo
Meu piano estava mudo
Mas voltou a cantar
Com vivacidade
E vontade
E verdade
E veracidade
E virgindade
E voltagem
E voltas
E valsas
E volátil véu
Julgamento sem réu
Me sinto como o inseto d'A Metamorfose de Kafka
Incapaz de falar, incompreendido por todos
Pra no final sua família ficar feliz pela sua morte
Mas não, não é o caso.
Todos estão ao meu favor
Só eu estou contra mim
Contra-si
Contrai-se
Contra-senso
Contra-cena
Contra-semente
Semente de flores
Semente de rosas
Eu recebi muitas rosas
No dia do meu aniversário
E no dia seguinte
Vermelhas, rosas
Pena que sejam tão efêmeras
Como nós mesmos o somos.
Sou uma borboleta
Me comunicando com um gafau
Só os insetos se entendem
Do filo Artropóda
Arte poda árvore
Arte pode
Arte rapsoda
Arte fugaz
Arte frugal
Arte final
Anna, me chama! Saudades de você.
Winie, me ensine! Você é um grande poeta.
Yasmin, liga pra mim! Você é uma futura historiadora.
Dan, não me esqueça não! Você é um bom fotógrafo.
Mãe, te amo! Pai, você é demais! Irmãos, vocês estão no meu coração!
E tantas outras mensagens eu escreveria, mas acho que começaram a ficar meio deslocadas nesse poema.
E por que não? Já estava se desmantelando o teorema...
Afinal, isso é um verso livre...
E eu vou parando por aqui.