A história resume-se no seguinte: a bailarina Nina quer o papel principal de Rainha dos Cisnes, que irá incorporar as duas irmãs: o Cisne Branco e o Cisne Negro. Porém, ela tem medo de perder o papel, e a chegada de uma concorrente, Lily, acentua esse medo, e faz também ela defrontar-se com lados de sua própria personalidade que ela insiste em negar. Ela então envolve-se com Lily, numa tentativa desta de 'esquecer as diferenças', indo para uma festa com ela e consumindo drogas.
Nina a partir de então vive uma série de delírios, onde tudo ao seu redor parece desmoronar, desde sua própria imagem até o mundo ao seu redor, e onde todos parecem querer pesegui-la e destruí-la. Ela acredita estar se transformando em um cisne, e possuir dentro de si ambos os cisnes. Ela acredita ter tido uma relação sexual com ela, quando na verdade foi um delírio dela, e acredita ferir a outra, quando na verdade feriu a si mesma. Em seu espetáculo final, ela dança toda a dor de uma vida, e embora esteja dançando com sua companhia de dança, ela dança centrada em si mesma, em seus sentimentos, e pode ainda ter um último vislumbre de sua mãe, emocionada com a filha.
Ao presenciar esse espetáculo, nós temos a impressão de também estar dançando, bela porém sofridamente, podemos sentir na pele todas sensações e desesperos tão comuns a todos nós. O corpo, que é a casa de nossa alma, sofre junto com ela, vive com ela, morre com ela. E a nossa sociedade às vezes nós faz ou sobrevalorizar ou alienarmo-nos de nossos corpos, daí a origem das neuroses modernas.
Nina espelha em Lily tudo que ela tem medo de ser: sensual, autoconfiante, arrogante, corajosa, livre. Esses aspectos nela são tão reprimidos que ao se deparar com essa imagem, tudo isso surge à tona nela, na forma do Cisne Negro, em oposição ao Cisne Branco, que o seu diretor diz que condiz mais com sua personalidade. Então esse lado "mal" é despertado nela, e é quando ela quer destruir tudo que a acorrenta, desde a rival, a mãe superprotetora, e a própria vida enfim.
Há um sentido muito mais místico por trás de tudo isso: há o Feminino, o Yin, em oposição ao Masculino, o Yang; os arquétipos da mulher boa e da mulher má; o amadurecimento sexual e emocional; o nascimento de asas; a analogia ao Patinho Feio, que na verdade é um cisne; os nossos espelhamentos no outro; o nosso lado obscuro que teimamos em fingir que não existe; as hierarquias na arte; as tradições da arte; o sonho de libertação, enfim.
Belo texto, Gabi. Nina representa bem uma mulher moderna, com toda apatia inicial de um cisne branco sem graça, mas deparando-se com o transcendental fulgor da dança equilibrada por sua assimetria ousada e agressiva, não suporta o sentimento de liberdade que lhe alcança, sucumbindo em uma neurose, já que era servil até da arte.
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ResponderExcluiro nosso lado obscuro que teimamos em fingir que não existe = "sombra", de Jung. pensei nisso agora.
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ResponderExcluirsomos todos mutantes.
ResponderExcluirhttp://youtu.be/Utly4DHH37o
Swan Lake http://www.youtube.com/watch?v=9rJoB7y6Ncs
ResponderExcluirNossa...
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